Em interrogatório de 1h30, o cabo pediu aos jurados
que fizessem 'justiça'; outros três réus serão julgados em janeiro
Wilton Junior/AE
Interrogatório do cabo Sérgio Costa Júnior
(E) durou 1h30
|
O primeiro dos 11 policiais militares acusados pelo
assassinato da juíza Patricia Acioli, em Niterói, na região metropolitana do
Rio, foi condenado nesta terça-feira, 4, a 21 anos de prisão pelo crime. A
juíza trabalhava em São Gonçalo, cidade vizinha de Niterói, e foi morta com 21
tiros, em 11 de agosto de 2011, ao chegar em casa. O julgamento do cabo Sérgio
Costa Júnior pelo 3º Tribunal do Júri de Niterói começou às 8h50 e terminou por
volta das 20h. Ele era réu confesso e foi condenado pelos crimes de formação de
quadrilha e homicídio triplamente qualificado (por motivo torpe, mediante
emboscada e para assegurar a impunidade de outro crime).
As penas iniciais somavam 33 anos e meio (29 por
homicídio e 4 anos e meio por formação de quadrilha). Como o réu confessou o
crime e delatou os comparsas, a pena foi reduzida para 18 anos pelo homicídio e
3 por formação de quadrilha.
O juiz Peterson Barroso Simão também condenou Costa
Júnior à perda do cargo de policial e determinou que ele fique preso em cela
individual e que o Estado adote as medidas necessárias para protegê-lo. Outra
ordem do juiz foi para que as armas usadas no crime sejam encaminhadas ao
Exército para destruição
Após a leitura do veredito, a mãe de Patricia, Marly
Acioli, de 76 anos, começou a chorar e precisou ser amparada por parentes. Uma
das irmãs de Patricia, Simone Acioli, considerou a pena satisfatória.
"Pensando com o coração, a gente queria pena máxima. Mas, como houve
acordo para delação premiada, sabíamos que a pena seria reduzida. Só que
condenar apenas o peixe pequeno não adianta. E quem comandou a morte da minha
irmã? A justiça só será feita quando o coronel Cláudio (de Oliveira) e o
tenente (Daniel) Benitez forem para a cadeia. Para eles queremos pena máxima.
Minha irmã morreu por fazer seu trabalho corretamente".
O defensor público Jorge Mesquita, que atua na
defesa do policial, anunciou recurso da pena do crime de formação de quadrilha
e da redução mínima aplicada pelo juiz pela delação premiada do réu.
"Dessa forma não há incentivo para ninguém fazer uma delação premiada.
Agora ele (Costa Júnior) vai ser jogado no sistema penitenciário, no pior lugar
possível, já que alcaguetes não podem ficar com outros presos, sob risco de
vida. Além disso, a família dele vai sofrer ameaças pelo fato de ele ter
entregue os colegas. Então, considero pequena a redução da pena",
reclamou.
O promotor Leandro Navega comemorou o veredito:
"Conseguimos tudo o que pedimos, inclusive os dois pontos principais: o
reconhecimento das três qualificadoras e a existência do crime de formação de
quadrilha. Se os jurados reconheceram que ele pertence a uma quadrilha, isso
quer dizer que os outros réus também fazem parte do bando. Isso reforça a tese
da acusação para os próximos julgamentos".
Antes do veredito, durante seu interrogatório, que
durou uma hora e meia, o cabo pediu aos jurados que fizessem justiça.
"Infelizmente tive cabeça fraca. Me deixei levar pela emoção e fiz o que
fiz. Mas desde o primeiro momento me arrependi com a desgraça que fiz com minha
família e com a família dela (Patricia). Acredito muito na Justiça. Façam
justiça comigo."
Costa Júnior deu detalhes do motivo, do planejamento
e da prática do assassinato. Segundo ele, o que determinou o crime foi a decretação,
por Patricia, da prisão de seis PMs do Batalhão de São Gonçalo - ele inclusive
- no processo que investigava a morte de Diego Belini, de 18 anos. Outros dois
PMs desse Batalhão já estavam presos. O crime ocorreu em 3 de junho de 2011 em
uma favela de São Gonçalo. O caso foi registrado como auto de resistência
(morte de suspeito em confronto com a polícia), mas, após investigações,
Patricia concluiu que o rapaz havia sido executado. "Havia rumores de que
ou a juíza ia soltar os dois policiais presos ou ia decretar a prisão de nós
seis. Quando ela assinou a prisão, foi a gota d'água", afirmou.
Outros três réus devem ser julgados em 29 de janeiro
de 2013.
Postado
em 04 de dezembro de 2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário