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terça-feira, 20 de novembro de 2012

Psiquiatra lança livro sobre transtorno do amor: “Redes sociais tornaram ciúme um inferno”

Autora de nove best-sellers sobre distúrbios da mente, a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa lança agora um livro sobre um transtorno pouco conhecido: a personalidade borderline, como conta a nossa Época desta semana. Em ‘Corações descontrolados. Ciúmes, raiva, impulsividade, o jeito borderline de ser’, ela tenta desvendar o comportamento de pessoas com hiperatividade emocional. “Elas costumam lidar muito mal com a rejeição, a desaprovação e o abandono. Sentem ciúmes descontrolados, paranoia e apresentam grande instabilidade emocional”, afirma a autora.

Quando o ciúme vira transtorno?
Ele só é patológico quando começa a causar uma disfuncionalidade na vida da pessoa. Ela falta ao trabalho para perseguir o parceiro, torna-se agressiva com ele e as pessoas a sua volta e passa a ocupar muito tempo na função de fiscalizá-lo. Ciúme é normal. A quantidade excessiva de tempo que ele toma na sua vida é que é o problema. 
As redes sociais tornaram as pessoas mais ciumentas?
As redes sociais trouxeram um fator infernizante para as pessoas borderline, porque são facilitadoras da necessidade de controlar o outro. O border tem tão pouco senso de autopercepção, que ele passa a viver em função de seu objeto amoroso e se vê como um reflexo do outro, não como uma pessoa com qualidades próprias. Ele enlouquece nas redes sociais e tem um sofrimento atroz, porque não consegue sair dali. Vira um detetive virtual, esmiuçando segundas intenções atrás dos posts mais simples. É impressionante a quantidade de pacientes adolescentes que chega ao consultório relatando a dor de ver seus ex-parceiros postando que foram a uma festa, que seguiram a vida adiante.
Existe uma maneira de identificar numa criança os sintomas de personalidade borderline?
Não se trata de uma doença em si. Como é um transtorno de personalidade, é um jeitão que a pessoa tem. No caso do border, essa instabilidade do humor é ditada pelo que acontece com seus afetos, pela impulsividade de se machucar para não perder o outro. As crianças border geralmente são adoráveis, muito meigas e carinhosas. Como têm excesso de emoção, comovem-se quando veem os pais sofrendo ou quando, por exemplo, se deparam com uma criança abandonada na rua. Elas também pedem muita atenção e se veem como preteridas ao menor sinal de rejeição. Se tiverem um irmão ou dois, vão ter a sensação de menos valia. O grande problema é na fase de adolescência, quando se apresentam os primeiros movimentos da paixão, de borders ou não borders. Os borders ficam obsessivamente apaixonados e deslumbrados com o ser amado. Sofrem à décima potência quando não são correspondidos ou se veem a paixão chegar ao fim. Ficam desesperados, podem se machucar, cortar os pulsos, tomar excesso de remédios. É o momento em que os pais têm o primeiro sinal.
É possível ter uma relação saudável com um borderline?
É possível, desde que o border tenha uma noção exata do que ele é e que batalhe por esse ajuste da personalidade. Ele deve canalizar esse excesso de emoções para elementos positivos. Amar um border é facílimo. Os primeiros contatos são maravilhosos, até o momento em que eles ficam dependentes. O medo de perder os leva a fazer tudo errado. No início, é um amor jogado a seus pés, e isso fascina. É muito típico a mulher border atrair dois tipos de homem. O primeiro é o perfeccionista, que se encanta com a liberdade e a falta de cerimônia em demonstrar os sentimentos da border. Ela se joga e mostra um outro lado para ele. Quando a relação começa a desandar, ele tenta resgatar aqueles momentos maravilhosos do início e mudá-la. O segundo é o psicopata, que é perigosíssimo. Ele vê na border uma pessoa perfeita para ser usada, para cometer o lado sujo do crime. É o caso dos traficantes que usam as mulheres apaixonadas para servir de avião. Enquanto elas não são pegas, tudo vai às maravilhas. Se forem presas, eles nem a visitam na cadeia. 
Há tratamento para esses pacientes?
O tratamento é um grande ajuste, um redimensionamento de energia. Tirar vantagens dessa emoção para que ela seja produtiva, não só destrutiva. Toda personalidade tem seu lado positivo e suas limitações. O lado positivo do border é o mais frágil, essa ebulição emocional. Se ele trabalhar com algo ligado à arte, por exemplo, é fundamental que tenha essa ebulição emocional. Elizabeth Taylor era inteiramente borderline; Wynona Ryder, idem. São atrizes muito viscerais, que chegam a se confundir com as personagens. Quando isso é bem canalizado, a vida do border deixa de ser apenas em função do lado afetivo. Sua auto-estima é alimentada pelo reconhecimento. Se tem medo da rejeição, ele tem o amor do público. É um outro ponto de apoio que não é só o intimo.
Qual o limite do amor saudável?
Um border fica cego de raiva quando é rejeitado. Ele tem reações que faz com que o outro o rejeite mais ainda. A gente mapeia e explica para ele. É como uma burrice emocional. Nossos tempos ainda vêm do mito do amor romântico, aquela relação perfeita que dá aconchego, sexo bom e segurança. Isso não existe, mas indústria vende esse valor inalcançável. O border acredita nesse amor romântico de uma tal maneira que, a qualquer imperfeição, ele entra em desespero. Isso não é amor, é um grande vício. Amor não é uma pílula mágica, sua vida não será perfeita quando encontrá-lo. O amor verdadeiro é aquele que desperta o que há de melhor em cada um de nós e nos permite várias conexões. Amor não é desespero, é aconchego.
Revista Época
 Postado em 20 de novembro de 2012

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