Julie Larson-Green comanda a reformulação do sistema operacional que precisa acompanhar o ritmo de uma indústria hoje dominada por telefones e tablets
Como chefe de desenvolvimento de produtos Windows na
Microsoft, Julie Larson-Green é responsável por um software usado por 1,3
bilhão de pessoas no mundo todo. Ela é também a pessoa que comanda a campanha
para apresentar o máximo possível dessas pessoas ao Windows 8, a dramática
reformulação do sistema operacional que precisa ter sucesso se a Microsoft
pretende acompanhar o ritmo de uma indústria da computação hoje mais voltada a
telefones e tablets do que a desktops.
- Windows 8: tudo sobre o novo sistema operacional
da Microsoft
O Windows 8 abandona traços de design familiares aos
usuários do Windows desde 1995, introduzindo interfaces mais simples e ousadas,
criadas para funcionar com uma tela sensível ao toque. O lançamento do Surface,
dispositivo entre um tablet e um laptop, também vê a Microsoft quebrar sua
tradição de deixar a construção do hardware a outras empresas.
Larson-Green assumiu o cargo há algumas semanas,
depois que o veterano Steven Sinofsky saiu em meio a rumores de disputas
pessoais com outros executivos da Microsoft. No entanto, Larson-Green é há
tempos uma figura importante na divisão do Windows – e até mesmo liderou a
elaboração do primeiro projeto do Windows 8. Especialista em design técnico,
ela também comandou a introdução da interface em "faixas" do Microsoft
Office, amplamente reconhecida como uma grande melhoria em usabilidade.
Larson-Green encontrou-se na semana passada com Tom
Simonite, no campus da Microsoft em Redmond, Washington.
P.: Por que foi necessário realizar mudanças tão
amplas no Windows 8?
R.: Quando o Windows foi criado, há 25 anos, as
suposições sobre o mundo e o que a computação poderia fazer, e como as pessoas
iriam usá-la, eram completamente diferentes. Antes do Windows 8, a meta era
abrir uma janela, então você colocaria essa janela para o lado e teria outra.
Mas com o Windows 8, todas as coisas diferentes que você pode querer estão ali,
na cara, com os Live Tiles. Em vez de precisar encontrar muitas pedrinhas para
olhar embaixo, você vê um painel de tudo que está acontecendo e tudo o que importa
de uma só vez. Isso o deixa mais próximo do que está tentando realizar.
P.: O Windows 8 é claramente projetado com o
pensamento no toque, e muitos novos PCs com Windows 8 vêm com telas sensíveis
ao toque. Por que o toque é tão importante?
R.: É uma forma muito natural de interagir. Se você
tem um laptop com tela sensível ao toque, seu cérebro faz um clique e você
começa a tocar no que torna tudo mais rápido para você. Você usa o mouse e o
teclado, mas mesmo num desktop convencional você se verá tocando para ser mais
rápido do que com o mouse. Não é como usar um mouse, que funciona mais como uma
marionete do que como uma manipulação direta.
P.: No futuro, todos os PCs terão telas sensíveis ao
toque?
R.: Por questões de custo, poderão sempre existir
computadores sem o toque, mas acredito que a grande maioria terá. Estamos vendo
que os computadores com toque são os que vendem mais rapidamente hoje. Não
consigo mais imaginar um computador sem toque. Uma vez que você experimenta, é
muito difícil voltar.
P.: Vocês tomaram esse caminho com o Windows 8 como
uma resposta à popularidade de dispositivos móveis com iOS e Android?
R.: Começamos a planejar o Windows 8 em junho de
2009, antes de lançarmos o Windows 7, e o iPad era apenas um rumor àquela altura.
Só vi o iPad depois que já tínhamos esse design pronto. Ficamos animados.
Muitas coisas que eles estavam fazendo com a mobilidade e o toque eram
similares ao que vínhamos pensando. Mas também
havia diferenças. Queríamos não
só ícones estáticos na área de trabalho, mas que os blocos fossem um painel da
sua vida; queríamos que você pudesse fazer coisas num contexto e compartilhar
entre aplicativos; acreditamos que a multitarefa é importante, e que as pessoas
podem fazer duas coisas ao mesmo tempo.
P.: O toque pode coexistir com uma interface de
teclado e mouse?
R.: Algumas pessoas disseram ser estranho ter tanto
os elementos mais novos, voltados ao toque, quanto a área de trabalho antiga no
Windows 8. Ter os dois ambientes foi uma escolha muito bem definida.
O dedo nunca irá substituir a precisão de um mouse.
Sempre será mais fácil digitar num teclado do que no vidro. Não queríamos que
vocês precisassem fazer uma escolha. Algumas pessoas disseram que isso é
chocante, mas com o tempo nós não ouvimos isso. Basta se acostumar com algo
diferente. Desde o início, nada era homogêneo; quando você estava no navegador,
era diferente de estar no Excel.
P.: Imagino se vocês estão experimentando um pouco
de déjà vu, após lançar uma mudança radical à interface do Office que foi
inicialmente recebida com reclamações.
R.: Sim! Muito disso é familiar. Algumas pessoas que
experimentam o sistema por um período curto podem não sentir como ele é rico.
Estamos apostando na impressão ao longo do tempo, e não nos primeiros 20
minutos de uso. Descobrimos que quanto mais envolvido você estiver na maneira
antiga, mais difícil é a transição – o que é lamentável, pois ficamos sabendo
de tudo na imprensa de tecnologia. Essas são as pessoas que já sabíamos que
teriam o maior desafio.
P.: Quanto tempo leva para uma pessoa se adaptar?
R.: De dois dias a duas semanas é o que costumamos
dizer para o Office, e é algo parecido com o Windows 8. Temos um programa
"vivendo com o Windows", onde observamos pessoas ao longo de vários
meses em suas residências. Muitas pessoas não enfrentam problemas.
P.: Que tipo de dados vocês têm sobre como as
pessoas que compram o Windows 8 estão reagindo?
R.: Quando você entra em seu PC com Windows, uma das
coisas que perguntamos é se você fará parte de um programa de aprimoramento da
experiência do usuário, e se você aceita, passamos a receber alguns dados.
Todos recebem essa pergunta. Recebemos terabytes e terabytes de dados
diariamente, e não temos como usar tudo. Por enquanto estamos vendo coisas
muito animadoras. Mais de 90 por cento de nossos clientes, com base em nossos
dados, usam o Charms e encontram a tela inicial na primeira sessão. Mesmo sendo
um usuário de desktop, há um ponto limite de cerca de seis semanas – quanto
você começa a usar os novos recursos mais do que as coisas que lhe eram
familiares.
P.: A Microsoft escolheu fabricar seu próprio
hardware para o Windows 8 com os tablets Surface. Por que não deixar isso aos
fabricantes de equipamentos, como vocês faziam no passado?
R.: Foi uma maneira de testar nossa hipótese de uma
nova forma de trabalhar. Leva tempo para que as pessoas se adaptem, mas também
leva tempo para que a indústria se adapte a novas coisas – todas as coisas
complicadas sobre a cadeia de abastecimento e questões como o tamanho dos
vidros a serem cortados. O Surface é nossa visão de como deve parecer um palco
para o Windows 8, para ajudar a mostrar aos consumidores e à indústria nosso
ponto de vista sobre como deve ser um hardware quase perfeito. Acreditamos no
Surface como um produto de longo prazo, mas sabemos que os parceiros terão
outras inovações e ideias. Uma das coisas que sempre foi boa no Windows é a
escolha – você não fica preso a um tamanho, um formato, uma cor, uma versão.
P.: Seu predecessor, Steven Sinofsky, foi amplamente
creditado por levar a Microsoft à criação do Windows 8 pela pura força de
vontade. Isso é verdade?
R.: Steven é um líder incrível, um cérebro
fantástico e uma grande pessoa, mas uma pessoa não pode fazer tudo. O principal
é a equipe que criamos e a cultura que desenvolvemos para a inovação.
P.: O que muda agora que você está no comando?
R.: Não muita coisa. Eu trabalhei diretamente com
Steven por sete anos, mas o conheço desde que entrei na Microsoft, há 20 anos.
Pensamos basicamente o mesmo sobre qual é o papel do Windows na sociedade, como
deve ser a computação, e como trazer pessoas com o mesmo ponto de vista.
P.: Agora que o Windows 8 foi lançado, o que você e
sua equipe estão fazendo?
R.: Nós não desaceleramos. Estamos sempre pensando
em novas tecnologias que possam ser úteis às pessoas.
Postado
em 05 de janeiro de 2013
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