Rio - A
impressão do auxiliar administrativo Felipe Souza, 31 anos, é que sua casa
mudou de endereço nos últimos tempos. E foi para bem longe. São quase três
horas para percorrer os 35 quilômetros que separam a residência, em Nova
Iguaçu, do trabalho, no Centro do Rio.
É um mar intransponível de carros, ônibus e carretas
à sua frente e espremidos nas acanhadas estradas do Rio. Reflexos de quem vive
na contramão das concessionárias responsáveis pelos sete principais corredores
de acesso à cidade.
O excesso de veículos e a timidez dos investimentos
foram a chave para empurrar ladeira acima os ganhos com a privatização das
rodovias. Uma média dos últimos quatro anos mostra que as empresas lucram R$ 1
milhão por dia dos R$ 4,5 milhões arrecadados com a cobrança de pedágio. Um
caminhão de dinheiro limpinho de todas as despesas.
No ranking das concessionárias com maior apetite, a
Nova Dutra sai na frente. Responsável pelos 402 quilômetros de pistas entre Rio
e São Paulo, ela embolsa por dia R$ 488 mil — R$ 20 mil por hora. O montante
corresponde a 20% do total arrecadado nas seis praças de pedágio da rodovia —
R$ 2,4 milhões por dia.
Se o volume impressiona, a proporção lucro sobre
receita dá a dianteira à Lamsa. Apesar de cuidar dos 20 quilômetros entre a
Barra da Tijuca e a Avenida Brasil, a empresa fica com 40% de lucro dos 490 mil
arrecadados todos os dias com o pedágio. Isto é igual a R$ 198 mil. Resumindo:
de cada R$ 5 pagos pelos motoristas na Linha Amarela, R$ 2 vão direto para o
cofre dos empreiteiros.
BOA RENTABILIDADE
A receita turbinada das concessionárias bota na
poeira até o potente Produto Interno Bruto chinês. Juntas, as oito
concessionárias arrecadaram em dois anos R$ 3,8 bilhões e com crescimento, no
período, entre 12% e 17% — o PIB brasileiro foi de 1,27%.
Dinheiro, que além de ser suficiente para concluir
todas as obras e eliminar boa parte dos gargalos das estradas do Rio, foi
impulsionado por mais carros nas ruas, menos estradas e reajuste do pedágio
sempre acima da inflação. Se a frota no Rio aumentou 90% nos últimos dez anos,
a abertura de rodovias ficou no meio do caminho: o número de quilômetros
construídos cresceu menos de 30%, a maioria longe do Grande Rio.
O pedágio é o combustível que faz decolar o balanço
das concessionárias. Em cinco anos, os reajustes chegaram a 80%. É o caso da
Concessionária Rio-Teresópolis (CRT). Em 2007, cobrava R$ 6,80 e, hoje, os
motoristas que cruzam seus guichês desembolsam R$ 12,20. A CCR Ponte, que
administra os 13 quilômetros da Rio-Niterói, viu seus preços subirem 40% no
período, saltando de R$ 3,50 para R$ 4,90.
Na cola aparecem a administradora da Linha Amarela
(37% de aumento) e da Rodovia Presidente Dutra (30% a mais). As concessionárias
têm um aditivo lucrativo: áreas de domínio, espaços às margens das rodovias por
onde passam cabos de fibra ótica, com clientela cativa de operadoras de
telefonia.
A velocidade excessiva dos reajustes do pedágio,
acertado com a Agência Nacional de Transportes Terrestres, chamou a atenção,
ano passado, dos técnicos do Tribunal de Contas da União. Na análise dos
contratos, enxergaram que os lucros estão a quilômetros de distância do justo
para uma prestadora de serviço público.
Postado
em 13 de Janeiro de 2013
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